Raízes Mundanas

Entre filas e consumos,
fatos consumados.
Irmãos de sangue, de terra e de quebras constantes.
Brancos de alma negra, negros de alma clara,
índios de flechas certeiras.
Aromas tão conhecidos e tão estrangeiros...
as vezes imperceptíveis.
Estrofes enfileiradas que traduzem em burguesia e poesia
até os preconceitos mais reclusos.
Falhas, acertos, trechos da vida.
E das tantas pessoas de nossas próprias pessoas
que escorrem na transpiração dos nossos póros perdidos no caminho.
Perguntas se dispersam em encontros e desencontros.
Simplicidades brotam das malícias dos dedos pintados.
Saudades brotam da terra e dos gostos de infância.
Descobertas se deparam com receios,
dentre ruas ilusórias e ludibriantes.
Flores da verdade teimam em acordar nossas mentes,
e o confronto com os pulsantes atos do coração,
acabam em pedradas.
Entre pó e luz se faz a estrela,
e o inevitável e óbvio encantamento em ser o apenas.
Que rosa ou couve, crescem de um mesmo jardim,
cores de um mesmo arco-íris.
Semente, árvore e fim.
Riquezas efêmeras... Carne e veias...
Num mundo cão, latimos a poesia.

Um barco se despede no meu leito
Anseia uma onda que arrebente
Um gole de café forte
Uma marca de unha, de dente.
Cantam as águas bravias, seduzem,
Iaras se despem
nas pedras lisas do tempo.
Um canto de nada, de imensidão apenas,
e as horas que se rendem pelos braços.
Canções de manto
aquecem os pedaços
e conduzem os restos de uma embarcação.

Pincel de retalho amarelo,
onde está seu colorir?
Onde botas a fúria, o medo, o existir?
Onde contas histórias febris?
Embala os tormentos com marcas de giz.
Pincel de retalho amarelo,
onde fitas o cabelo e o chinelo?
Onde cantas?
Onde canto pra que tu ouças?
De quantas aquarelas,
quimeras
tu te prendes?
Em quem passos tu me prendes?
Em que cores te arrependes?
Pincel de retalho amarelo,
te dou meus ouvidos!

Aмαиtєs иuм сolo dє яosαs
αjoєlhαм ρєlαs ραяєdєs
сoмєм сαсos сoм tαlhєяєs
Sєиtєм ьαlαs, єstιlhαços...
сoиƒєssαм ьαиαιs яιquєzαs
αssuмєм яєzαs, иovєиαs
сoиtαм сαusos.
αмαиdo sє ƒαzєм мιúdos
dє soяtє, dє сαяиє, dє gєиtє,
αмαdos sєяão ρєlα ƒяєиtє
иos сαsсos do сαvαlo αlαdo.
αмαиdo sє ємьαlαм dє яιso,
α сαsα, o tαсo, o ριso,
αмαdos sєяão мєlhoяαdos єм мєиtє
мєиtιиdo dє tão tяαиsραяєиtє.

A Lua fita
as fitas
do cabelo,

A Lua entrega meu corpo.

A Lua abriga meus sonhos...

A Lua sou eu!
Enquanto isso...

Os instantes trazem horas

Em que dias duram anos...

As histórias viram lendas

Os poemas amarelam...

As palavras viram gotas secas

Apenas saliva, momentos, minutos...

Se perdem!

As flores murcham!

Enquanto isso...

Deixo aqui o meu mais breve

E o mais eterno.

A criatura sem antídoto

Enquanto isso...

O tempo corta os pulsos

O tempo conta os passos

O tempo rouba os beijos não roubados.

O tempo do grão, da folha,

Da morte da flor.

Nos olhares onde se carrega o recomeço.

Onde a beleza existe!

Na certeza de seu fim!

A beleza que assiste ao novo

E se entrega as ondas que vão.. e que com certeza voltarão!

Porque belo é o olhar sobre a não-beleza!

Aquele instante em que as cores se escondem

Para que os olhos anseiem a volta.

E bela, não é a beleza...

Bela é a incerteza do belo.

Enquanto isso

As flores partirão... como o amor

Que só morre

Para renascer!

Cintia de Andrade





PROCURADA

Me procure num brilho de lua
e num vermelho maçã.
Me procure num quarto escuro,
num vaso sem flor,
num barco à deriva na beira do cais.
Na ciranda, de dança.
No espelho, de outra.
No desejo, papel.
Me procure dentro das suas portas.
Me procure nas mãos que teimam.
Nos sonhos...
Na poesia de um qualquer.
Me procure na casa amarela do outro lado da rua
e no buraco da fechadura.
Me procure nas guloseimas da infância.
Me procure no avental sujo,
na alma lavada.
Me procure na tela de um quadro não pintado...
E me encontre!